A arte de entregar a Deus o que somente ele pode fazer

J. C. Pezini 

Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. 1 Pe.5:6,7 

Nestes últimos anos tenho trabalhado com pastores que reclamam o tempo todo que estão cansados, estressados, desanimados. Eles confessam que estão frustrados, e que não aguentam mais a sobrecarga diária. Por este motivo, tenho me perguntado diariamente: “Será que não estamos tentando resolver tudo sozinhos”? Me parece que perdemos a confiança em deixar nas mãos de Deus o que somente ele pode fazer. 

Nós nunca experimentaremos paz neste mundo a menos que dominemos uma habilidade crucial. Precisamos aprender a arte de deixar ir, de liberar. 

Os jogadores de boliche, por definição, têm que largar as bolas, se não largar ela não atinge o alvo. 

Mas alguns de nós parecem que fazemos isso com grande relutância. Conseguimos deixar ir quando já não conseguimos mais segurar. Quando percebemos que não conseguimos mais ter controle da situação. 

Depois que a bola está fora de nossas mãos e descendo a pista, achamos que pode ser útil gritar e ainda dar instruções adicionais. Parece até ridículo, mesmo vendo a bola rolando ficamos gritando e torcendo o corpo para ajuda-la a atingir o alvo. “Esquerda, esquerda, esquerda! Não, não na sarjeta! “Acenamos nossas mãos. Nós equilibramos precariamente em uma perna, como se os nossos movimentos transmitissem magicamente correções de curso para um objeto sólido cujo destino já estivesse estabelecido. Todos nós, jovens ou com maior idade também não estamos imunes a esse comportamento. “Vamos lá, caia aí, não, não neste lugar!” 

E porque não falarmos dos pais. É difícil assistir seu filho adolescente começar sua primeira viagem sozinho no carro da família, ou acenar para o seu filho mais velho em seu primeiro dia na faculdade, sem pensar: “Mas eu ainda estou no controle do que acontece a seguir, certo?” Não, não estamos, é pura bobagem. Na maioria dos empreendimentos da vida, chega a hora de deixar ir. Como pastores aprendemos isto com muita luta. Crer que Deus está no controle da vida é fácil, mas deixá-lo no controle é um aprendizado. 

Temos amplas oportunidades de influenciar o que acontece em seguida, seja dirigindo uma um carro, lançando um novo projeto ou treinando lideres. Nós nos preparamos diligentemente. Nós avançamos corajosamente. E fazemos tudo em oração. Mas o momento sempre chega quando não há mais nada a fazer. Tendo feito o nosso melhor, deixamos os resultados para Deus. Claro, parece que há algo mais que podemos fazer. Nós podemos nos preocupar. Normalmente é isto que acontece. Isto é o equivalente a tentar refinar o curso de uma bola de boliche que já está se dirigindo para os pinos. 

No entanto, todos nós sabemos em teoria que a preocupação não muda nada. Nasce da ilusão de que ainda estamos, de alguma forma, no controle e que nossa preocupação fará a diferença. Com isto vem o estresse, o desânimo, e por fim a depressão. 

Vale a pena notar que não há nenhum versículo na Bíblia que diz: “E Deus começou a se preocupar”. Deus não tem nada para se preocupar. Sabe o por que que ele não se preocupa? É porque Deus está realmente no controle do universo. Sabemos que em sua palavra ele diz que nem mesmo uma folha cai de uma árvore sem seu conhecimento. 

É por isso que podemos renunciar ao controle de um projeto especial ou de uma pessoa de valor inestimável. Podemos renunciar a ansiedade pelo crescimento da igreja. Jesus foi claro, ele mesmo disse que ele edificaria sua igreja. Estamos meramente entregando o que nunca tivemos realmente em primeiro lugar. 

Dallas Willard escreve: “No começo de cada manhã, dedico meu dia aos cuidados do Senhor… agindo assim coloco Deus no comando. Não preciso mais administrar o acontecimento das coisas, nem mesmo as outras pessoas”. 

Esse é o antídoto para parar de se preocupar. Tirando a nossa mente da miríade do que pode acontecer hoje, estamos livres para dar toda a nossa atenção àquele que realmente está no controle. Sabe qual é a diferença entre você e Deus? Deus não acha que ele é você. Ele estará realmente no comando do cosmos durante as próximas 24 horas. 

O que significa, pela graça de Deus, podemos aprender a deixá-lo no comando de nossa vida e ministério. Estejamos livres das preocupações, elas não mudam nada, somente atrapalham. Deus além de nos ajudar, ainda está movendo as coisas segundo a sua vontade. 

Deus está sempre presente, será que conseguimos percebê-lo?

Rev. Dr. J.C Pezini 

“Estou decidido na tua procura: não permitas que eu passe sem ver as placas que puseste no caminho”. Sl.119:9,10 

Não há dúvidas quo livro mais lido dos últimos quatro séculos é a Bíblia. Surpreendentemente, o que muitas pessoas acreditam ser o segundo livro mais lido foi escrito por um cozinheiro, lavador de pratos. Seu nome era Nicholas Herman. Ele era um veterano francês da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Herman retornou a Paris cuidando de ferimentos físicos e anseios espirituais profundos. 

Ele encontrou o caminho para um mosteiro carmelita, onde esperava poder seguir uma vocação religiosa. Por não ter educação suficiente para se tornar padre, contentou-se em assumir o papel de irmão leigo. Isso significava que ele provavelmente passaria o resto de sua vida desempenhando tarefas domésticas, fora da vista dos demais. Seu coração estava inquieto. Ele estava fazendo as coisas certas? Ele estava indo na direção certa? Ele teve a aprovação de Deus? 

Tudo isso começou a mudar um dia enquanto ele ponderava sobre a vida de uma árvore em particular. Nicholas notou, como se pela primeira vez, que a árvore não era saudável “por conta própria”. Sua força e nutrição vinham do solo profundo em que estava enraizada. Ele decidiu analisar suas circunstâncias de uma nova maneira. Sua vida se tornaria um experimento – uma oportunidade contínua de extrair nutrição espiritual da presença de Deus, que sempre esteve ao seu redor e sempre disponível, não importando o que ele estivesse fazendo. 

Sua vida se tornaria “uma conversa habitual, silenciosa e secreta da alma com Deus”. Isso mudou tudo. Nicolau levou o nome religioso “Lawrence da ressurreição”. Outros o chamavam simplesmente irmão Lawrence. Ele nunca se tornou bispo, cardeal ou papa. Ele nunca conseguiu o escritório da esquina com as duas janelas voltadas para diferentes direções e o título elevado na porta. Na verdade, ele raramente saía da cozinha. Ele se chamava de Lorde de Todos os Vasos e Panelas. 

Ele disse: “O tempo que gasto com o trabalho não difere do tempo de oração; é no ruído e barulho de minha cozinha, onde várias pessoas, ao mesmo tempo estão me chamando por coisas diferentes, que eu curto a presença de Deus com grande tranquilidade quanto se eu estivesse de joelhos diante do Santíssimo Sacramento”. A cozinha, em outras palavras, tornou-se seu santuário. 

Outros ficaram admirados com a maneira como ele vivia. Depois de sua morte em relativa obscuridade em 1691, seus irmãos monásticos coletaram suas correspondências particulares, bem como o que eles lembravam de suas conversas, e publicaram-nas como um livrinho chamado A Praticar da Presença de Deus. Tornou-se um best-seller e permaneceu assim desde então. 

O que Nicholas Herman, o irmão Lawrence, descobriu? Ele havia experimentado pessoalmente a espiritualidade das tarefas cotidianas. Se ele conseguiu, nós também podemos. Cada local pode se tornar um “santuário portátil”. Sempre que ligamos o computador, e compramos o jantar em um supermercado lotado, ou mergulhamos nossas mãos em uma pia cheia de pratos com sabão, podemos saber que estamos em pé no chão sagrado. Porque Deus está ali. E Deus é sempre acessível. 

“Não devemos nos cansar de fazer todas as coisas pequenas ou grandes por amor de Deus, que não considera a grandeza do trabalho, mas o amor com o qual é realizado”, disse o irmão Lawrence. O seu dia está cheio de uma coisinha atrás da outra? Experimente esta experiência: Faça-os todos por amor de Deus e veja como a vida muda.