Somos seres humanos e não semideuses

Rev. Dr. J.C. Pezini 

“Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. Mateus 11:28-30 

“Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. Mateus 11:28-30 

Temos vivido dias nebulosos, onde semanalmente ouvimos sobre líderes religiosos tirando a sua própria vida. Somente em dezembro (2018) ouvimos de dois pastores que cometeram suicídio. Muitos questionamentos têm surgidos em busca de respostas. A pergunta que todos fazem é: por que pastores, que um dia se dispuseram a cuidar do rebanho de Deus, perdem o sentido da beleza da vida e desiste de viver tirando a sua própria vida? Creio que para esta pergunta não há resposta. Nunca vamos chegar a uma resposta que de fato explique uma atitude tão drástica como esta. 

No entanto, gostaria de levantar algumas hipóteses que nos levem a refletir sobre o ministério pastoral e suas demandas. Creio que desde a profissionalização do clero no século quarto, onde foram criadas duas classes de cristãos, clero e laicato, foi colocado sobre os ombros do clero toda a responsabilidade que antes era distribuída a todos os cristãos indistintamente. Ou seja, desde então, o pastor ficou com a responsabilidade de fazer tudo o que condiz com a igreja. Ele passou a ser responsável por fazer a igreja crescer, administrar a instituição, alimentar o rebanho semanalmente com a palavra de Deus, cuidar do rebanho em suas lutas diárias. E, por fim, é criticado porque não consegue fazer tudo da melhor maneira possível. Ele não possui todos os dons necessários para realizar tudo com tamanha perfeição como lhe é exigido. Neste caso, chegou o momento de repensarmos a eclesiologia da igreja. Precisamos com a graça de Deus trazer a igreja de volta aos princípios bíblicos eclesiológicos. 

Além do mais, percebo que nos dias em que estamos vivendo há uma crise delicadíssima sem tamanho sobre a vida ministerial. Está havendo uma disputa muito grande no meio evangélico. Por causa disto, líderes evangélicos têm transformado a igreja de Jesus em um mercado, fazem do púlpito um balcão de negócio, usam o evangelho como produto de venda, transformam membros em clientes e, por isso, precisam trabalhar arduamente para satisfazer os desejos consumistas de seus clientes. Sem imaginar, criaram um monstro e agora dominicalmente precisam alimentá-lo. 

O problema é que este monstro é insaciável. Cada dia ele precisa de algo a mais. Não é difícil de perceber isso. Ao olhar ao nosso redor, temos percebido que muitos pastores não precisam mais de Deus para fazer suas igrejas crescerem. Eles têm buscado no mundo corporativo seus métodos e formas e transformaram a igreja em uma bela vitrine, que atrai um povo consumista. Eles conseguem convencer os demais que estão no caminho certo porque estão crescendo em números e a arrecadação aumenta dominicalmente. Esses líderes andam com roupas de grife e desfilam carros caros. Dão a impressão de que estão sob a bênção do todo poderoso. O problema desta mentalidade é que, eles têm números, frequentadores, mas não discípulos de Cristos cujas vidas são moldadas pelo Espírito Santo de Deus e são mais parecidos com Jesus. 

Talvez chegou o momento de questionar o conceito “Chamado para o ministério”. Eu penso que este conceito responde bem dentro da mentalidade descrita acima sobre clericalismo. Sou um cristão de segunda categoria, sou parte do laicato, mas senti o desejo de me preparar para chegar a ser clero, para ser visto e tratado como cristão de primeira categoria. Então eu justifico que me sinto chamado. 

Se me sinto chamado, a pergunta a ser respondida é: Chamado para fazer o quê? A resposta é óbvia: para trabalhar para Deus. Entretanto, será que Deus precisa de nosso trabalho? Será que Ele não é autossuficiente para fazer tudo sozinho sem nossa participação? Eu creio que se não atrapalhássemos Deus, já faríamos um grande trabalho. 

Será que o ministério é algo que sou chamado a fazer? Eu tenho 33 anos como pastor ordenado. Nunca perdi a alegria do ministério. Nunca me senti desanimado e continuo com a mesma paixão que tinha quando fui ordenado. Admito que o ministério não é fácil, há tristezas, lutas, dissabores. Mas a alegria de ver gente sendo transformada, conhecendo Cristo e crescendo Nele, me tornando parecido com Ele e o servindo como verdadeiro discípulo tem me proporcionado grande alegria. No entanto, entendo que o ministério não é algo que eu faço para Deus. Não é um trabalho que presto a Ele. Mas sim o ministério é uma consequência natural da vida que tenho nele. Ele é uma extensão da vida. Neste caso, sou meramente um parceiro Dele na obra que está realizando de restauração deste mundo. Para isso, minha primeira obrigação é estar Nele, gastando tempo com ele para que eu possa descobrir o que ele está fazendo para acompanhá-lo na jornada. Neste caso, o tempo que passo com Ele deve ser proporcional ao que passo fazendo com ele. Creio que se assim procedermos, o ministério será uma fonte de alegria, prazer e autorrealização.