A tentação da liderança

Glenn McDonald

Qual é o versículo mais patético digno de contrariedade da Bíblia?

Existem vários candidatos. Mas, um dos finalistas deve ser Êxodo 32:24 quando Arão, o primeiro sumo sacerdote de Israel, abandona toda responsabilidade de liderança e prestação de contas diante de seu irmão Moisés.

Moisés subiu ao Monte Sinai e lá ficou por 40 dias – recebendo, entre outras coisas, os Dez Mandamentos. Arão permaneceu com o povo, que, tendo sido liberto recentemente da escravidão do Egito no Êxodo, aparentemente está competindo para ver o quão rápido eles podem quebrar todos os dez. A multidão se aproxima de Arão e começa a choramingar. Nós estamos cansados ​​de ficar presos no deserto. “Faça para nós deuses que irão diante de nós …”. É hora de chegar a algum lugar. É hora de trocar de deus. Os israelitas imploram a Arão para inventar um deus que eles possam controlar.

Arão se dobra. “Tirem os brincos de ouro de suas esposas, de seus filhos e de suas filhas que estão usando e traga-os para mim”. Arão mais do que depressa faz um molde de ídolo na forma de um bezerro. Por que um bezerro?

Com toda a probabilidade esse ídolo representa um touro – antigo símbolo de vitalidade, força e potência. Como o historiador Thomas Cahill observa em seu livro The Gifts of the Jewish, isso é algo com que as pessoas podem se identificar e se compreender. Êxodo 32:6 relata: “No dia seguinte o povo levantou-se cedo e ofereceu holocaustos e apresentou ofertas de comunhão. Depois, eles se sentaram para comer e beber e se levantaram para se deliciar com a folia”. “Folia” é uma tradução gentil. Isso é algo da ordem de magnitude além da média era na verdade uma festa carnavalesca. Pior ainda é o que Arão disse ao povo na noite anterior: “Amanhã haverá uma festa ao Senhor!”

A palavra hebraica para “SENHOR” neste versículo é Yahweh. Esse é o nome especial do Deus da Aliança. Arão não é apenas cúmplice da idolatria, mas tudo está sendo feito em nome de Deus.

Uma coisa é desobedecer a Deus mentindo, roubando ou trapaceando. Mas é muito pior dizer que Deus endossa minha mentira sobre declaração de meus impostos, ou, que Jesus se solidariza com minha necessidade emocional de continuar um relacionamento secreto fora do casamento.

Como pastor, sei que não é fácil ser Arão. Todo líder espiritual é tentado a se afastar dos limites que Deus traçou claramente tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. 

Eu sei como sou suscetível a essa tentação. Se você vier a mim em busca de orientação espiritual, quero sinceramente dizer-lhe algo que o deixará feliz. Então, quero que você coloque algo imediatamente nas redes sociais: “Meu pastor! Você tirou meus fardos e resolveu cada um dos meus problemas”.

A propósito, a maneira mais fácil de fazer isso e arruinar sua vida e a minha ao mesmo tempo será diminuindo os padrões de Deus – e depois mentindo para você mesmo dizendo que é isso que Deus quer que façamos.

Quando Moisés desce do Monte Sinai ele não pode acreditar que seu irmão mais velho, em apenas 40 dias, desabou tão completamente. Ele disse a Arão: “O que essas pessoas fizeram com você, para que o levasse a tal pecado?”. Eles te ameaçaram? Eles te torturaram forçando-o a assistir a todas as quatro temporadas de Saved by the Bell?

O que nos leva à explicação de Arão para seu comportamento. “Não fique zangado”, disse ele a Moisés. “Você sabe como essas pessoas são propensas ao mal.”

Lição de liderança nº 1: Não importa o quão necessitados e irracionais aqueles a quem servimos possam ser em um determinado dia, é sempre nossa responsabilidade fazer o que é certo. Culpar aqueles a quem somos chamados a amar é um obstáculo. Arão continua: “Eu disse a eles: ‘Quem tiver alguma joia de ouro, tire-a’. Então eles me deram o ouro, e eu joguei no fogo, e este bezerro saiu!” (Ex. 32:24).

Lição de liderança nº 2: Assuma a responsabilidade. Todos do povo e Arão sabem que há um bezerro de ouro no meio do acampamento porque nós o fizemos, e não outra pessoa o fez.

Todos nós somos chamados para exercer liderança nas coisas de Deus, mesmo não tendo um título especial. E os líderes devem escolher seguir a missão que Deus colocou diante deles, mesmo que a multidão esteja implorando para que aceitemos algo menor.

Tradução de J. C. Pezini

Exercitando a visão para perceber o Cristo que fala conosco!

José Carlos Pezini

Maria, porém, ficou à entrada do sepulcro, chorando. Enquanto chorava, curvou-se para olhar dentro do sepulcro e viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira e o outro aos pés. Eles lhe perguntaram: “Mulher, por que você está chorando? ” “Levaram embora o meu Senhor”, respondeu ela, “e não sei onde o puseram”. Nisso ela se voltou e viu Jesus ali, em pé, mas não o reconheceu. Disse ele: “Mulher, por que está chorando? Quem você está procurando? ” Pensando que fosse o jardineiro, ela disse: “Se o senhor o levou embora, diga-me onde o colocou, e eu o levarei”. Jesus lhe disse: “Maria! ” Então, voltando-se para ele, Maria exclamou em aramaico: “Rabôni! ” (que significa Mestre). Jesus disse: “Não me segure, pois ainda não voltei para o Pai. Vá, porém, a meus irmãos e diga-lhes: Estou voltando para meu Pai e Pai de vocês, para meu Deus e Deus de vocês”. Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: “Eu vi o Senhor! ” E contou o que ele lhe dissera”. João 20:11-18

Tudo indica que Maria Madalena, amiga e seguidora fiel, conviveu muito próximo de Jesus e dos doze. Foi ela quem tomou a iniciativa de ir ao túmulo no domingo bem cedo numa última homenagem ao seu Senhor. E por este motivo, também, foi ela quem primeiro testemunhou o Cristo Ressuscitado. Mas, curiosamente ela não reconheceu de imediato Jesus, embora ele estivesse ali bem perto dela.

O que fez com que esse Cristo, antes tão próximo, fosse confundido com um desconhecido? Como ela não O reconheceu, estando o Senhor ali bem perto dela? Será que era pelo fato de Jesus ter se manifestado em um corpo glorificado?   Maria estava diante de um mistério que destoava do que ela conhecia até então, o corpo material do Senhor. 

Mas há duas metáforas importantes que, se não respondem objetivamente à questão, trazem verdades espirituais que transcendem a experiência de Maria e tocam em nossa própria relação com o Senhor.  

A primeira é a de que, enquanto Maria estivesse procurando por um Jesus Morto, teria dificuldades de enxergar o Cristo Vivo, ainda que o tivesse diante dela. Isso indica que nós também não encontraremos o Senhor se o reduzirmos a leituras e imagens. Antes, devemos criar espaços para diálogos diários que torne Vivo Aquele que não é um personagem nem um conjunto de ideias, mas uma Pessoa.   

A segunda pista é a de que Maria ouve as primeiras palavras do Senhor sem reconhece-Lo, mas, quando Ele a chama pelo nome e diz: “Maria!”, a névoa se dissipa e ela enxerga o Cristo ressuscitado. Impossível não evocar o momento em que o Senhor reivindicava o título de bom pastor, aquele cuja voz as ovelhas ouvem e seguem: “Ele chama as suas ovelhas pelo nome e as leva para fora. Depois de conduzir para fora todas as suas ovelhas, vai adiante delas, e estas o seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10, 3-4).

O Senhor, como Pastor, nos encontra não apenas pelo entendimento, mas pelos sentidos. Exercitar a visão de um Jesus vivo e praticar a escuta de uma voz singular que nos chama pelo nome, eis os dois caminhos para encontrar nosso Senhor na madrugada de um dia surpreendente.

J.C. Pezini é diretor do Instituto Sara

A Deus Ansiedade

Cesar Junker

Há uma acentuada epidemia de ansiedade em nossos dias devido à pandemia do COVID-19. Pelo desejo de acumular bens de consumo e controlar o futuro para tentar, sem sucesso, aplacar o vazio da nossa alma, vivemos ansiosos e esbaforidos, perdendo a saúde, os relacionamentos e a paz. A ansiedade é um dos principais fatores de adoecimento hoje, desencadeando vários transtornos emocionais, psicológicos, físicos e espirituais.

Jesus não abordou a ansiedade como uma doença física, mas como uma maneira de encarar a vida, a qual revela falta de confiança em Deus. Ele aponta para as nossas pré-ocupações, ou seja, ocupar-se antes, que é um estado de incerteza e insegurança sobre o futuro e sobre as questões básicas da vida. Diante desse contexto de insegurança Jesus nos ensina duas atitudes fundamentais para não sermos escravizados pela ansiedade.

Primeiramente, Ele nos ensina a confiar em Deus. O Mestre contrasta os que vivem para as riquezas e, aqueles que vivem para Deus numa disposição de confiança e dependência. De fato, não há como ser apaixonado pelas riquezas e ser liberto das ansiedades. Ele nos convida em Mateus 6:26-27 a aprendermos ter confiança e dependência do Senhor com a simplicidade da natureza: “Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas? Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora à sua vida?  Para Jesus, a vida como presente de Deus, vale mais do que aquilo que se come e do que se veste. Nossa vida é mais valiosa do que as necessidades imediatas e mesmo assim, o Pai Celeste está atento a todas elas. O convite de Jesus não é para que abandonemos o nosso trabalho e vivamos de contemplação. Seu convite a nós é para um jeito de viver que prioriza a presença de Deus e nossa completa dependência em Sua Providência. É uma proposta de vida com valores eternos e com a consciência de que Deus não deixará faltar nada de essencial a uma vida digna e cheia de esperança.

Em segundo lugar, Ele nos ensina a viver um dia de cada vez. Isso significa saber dar importância ao que realmente vale a pena! Vivemos numa sociedade que, por querer controlar o futuro, tem produzido em nós um vício de antecipação das pré-ocupações da vida. Muitos abrem mão de viver o presente para viver um futuro que ainda não existe. Na realidade, não conseguem ocupar a mente e as energias no presente porque se ocupam com antecipações e deixam de desfrutar as experiências de cada dia. O respeitado pregador Charles Spurgeon disse certa vez: “Nossa ansiedade não esvazia o sofrimento do amanhã, mas apenas esvazia a força do hoje”. Quando Deus é o Senhor da nossa vida as angústias e antecipações com as pré-ocupações futuras se desfazem com a certeza de que o amanhã já está garantido e o presente é recheado da promessa de que o necessário para a vida nos será provido. É preciso ver a vida como um presente de Deus e como uma construção diária, bem expressado na bela canção de Almir Sater: “Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso, porque já chorei demais…”. Jesus viveu intensamente e refletidamente cada dia e, assim, por ter vivido a essência da humanidade sendo gente de verdade, tinha autoridade para dizer: “Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal” (Mateus 6.34).

Vivamos confiando em Deus, nosso Pai amoroso e, aprendendo com Jesus a viver um dia de cada vez com gratidão, serenidade, sabedoria e esperança!

ORAÇÃO: Pai amoroso, sou grato(a) pela vida completa que há em Jesus e isso é presente Teu. Mesmo com as marcas que carrego da vida, tenho percebido o Teu constante cuidado. Aumenta a minha fé e ajuda-me a confiar totalmente em Ti e a viver cada dia com o coração repleto da Tua paz! Oro em nome de Jesus. Amém!

Cesar Junker é pastor da I.P.I. Lagoa Dourada em Londrina, PR.