As nossas liturgias definem quem iremos nos tornar

Rafael Franco

Deuteronômio 6.4–9 (NTLH): Escute, povo de Israel! O Senhor, e somente o Senhor, é o nosso Deus. 5 Portanto, amem o Senhor, nosso Deus, com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças. 6 Guardem sempre no coração as leis que eu lhes estou dando hoje7 e não deixem de ensiná-las aos seus filhos. Repitam essas leis em casa e fora de casa, quando se deitarem e quando se levantarem.8 Amarrem essas leis nos braços e na testa, para não as esquecerem;9 e as escrevam nos batentes das portas das suas casas e nos seus portões.

Você tem alguma tradição que precisa sempre cumprir? Nós vivemos na era da informação e da imaturidade crônica. Temos muito acesso a todo tipo de notícias e de conhecimentos e ficamos presos a hábitos vazios, tradições adotadas sem perceber. Assim, nossos corações vão sendo moldados por liturgias diárias que em nada nos ajudam a amar mais a Deus. Os processos de mentoria e formação antigos foram se perdendo ao longo dos anos e foram sendo substituídos por telas e entretenimento, criando assim pessoas escravizadas pelas suas paixões.

O texto bíblico de Dt. 6.4-9 é o centro da tradição judaica, o Shema. Duas palavras chamam a atenção na leitura. Amor e coração. Os mandamentos de Deus são mandamentos para reconfigurar justamente as nossas paixões. Assim, a reconfiguração das nossas vidas começa com nossas liturgias diárias, ou seja: conforme vamos obedecendo os mandamentos de Deus em nosso dia a dia, mais nos tornamos capazes de obedecer os mandamentos de Deus! E quanto mais vivemos isso dia a dia, mais aprendemos a amar corretamente. Abrimos nossa vida para Deus moldar nosso coração.

No livro Você é o que Você Ama, James K. A. Smith diz que: se você é o que você ama e o amor é um hábito, logo o discipulado é uma reformulação dos hábitos de seus amores. Pergunto: se você analisar os seus hábitos, o que eles revelam sobre os seus amores?

Nossos amores são construídos desde nosso nascimento e nos são apresentadas várias versões de uma boa vida que nos prometem suprir nosso coração. Sem perceber embarcamos nas liturgias sociais e nos tornamos aquilo que amamos (aquilo que investimos nosso tempo). O problema é que quando refletimos, vemos que nossa vida está muito distante da vida proposta por Deus e não fazemos ideia de como voltar. Precisamos recalibrar nossos amores.

Para que possamos experimentar uma transformação profunda dos nossos amores temos que abrir espaço em nossas vidas para verdadeiramente amarmos a Deus. Organizar nossas liturgias diárias de devoção, prestar atenção aos nossos hábitos e investir tempo com as pessoas que Deus nos chamou para amar são cuidados simples que, no longo prazo, causam um impacto profundo em quem nos tornamos. Essa reconfiguração dos amores é obra do Espírito Santo em nós para que amemos cada dia mais Aquele para o qual nosso coração foi feito para amar, Jesus Cristo o Senhor.

Rafael Franco é pastor da 1ª Igreja Presbiteriana Independente de Campinas