Chuvas de Primavera

Roberto Mouzinho Ferreira 

23 de setembro. Hoje faz 4 anos. Viajamos de São Paulo para Macaé, com o amigo Vagner Pontes, pastor da 2ª Igreja Batista daquela cidade. Tínhamos o compromisso de comandar a área musical de um retiro de casais daquela igreja no fim de semana seguinte, na cidade de Cabo Frio. Eu estava sem condições de dirigir e ele havia ido nos encontrar, um dia antes, na casa dos nossos filhos, na capital Paulista, de onde saímos (com ele assumindo o volante) pouco antes do nascer do sol daquela terça-feira bendita. Na última sexta-feira, o pastor da nossa igreja, Rosalvo Maciel, havia nos levado, também em nosso carro, de Goiânia para São Paulo. Dois servos de Deus que reorganizaram suas agendas para nos socorrer. 

Eu quisera desmarcar o compromisso com os casais da SIB de Macaé por causa da profunda depressão que me acometera desde meados do primeiro semestre, mas o pastor Vagner havia encorajado Vanja a mantermos o compromisso, insistindo na crença de que estar com os irmãos poderia ser abençoador para mim. 

Algumas semanas antes, havíamos ouvido uma pregação sobre as “chuvas de primavera” (Zacarias 10.1) e desde então pedíamos ao Senhor que derramasse essas águas sobre a aridez que minha alma enfrentava. O inverno goiano representa bem tal estado de alma: nada de chuva durante meses e um calor seco e fatigante, dia e noite. As primeiras chuvas depois que a primavera chega são motivo de celebração. 

Durante meses eu orava, todas as noites, pedindo a Deus que no dia seguinte eu amanhecesse curado. Às vezes, ao acordar, pela manhã, eu ficava procurando “sinais” de melhora, para logo me frustrar, não encontrando qualquer indício. 

Sempre me refiro à manhã daquele 2º dia da primavera de 2014 como uma espécie de dobradiça, ou o vértice de uma parábola. Eu não sabia, mas havia tocado no fundo do poço e iria começar, ainda que lentamente, no tempo de Deus, minha subida à superfície. 

Ao pararmos para tomar café, em algum ponto da Via Dutra, eu olhava em volta e sentia algo diferente, embora não soubesse o quê. Ao levar o café à boca e apreciar o sabor foi que me dei conta de que havia meses que a falta de prazer em me alimentar tornara o paladar algo imperceptível. Pedi mais café e pão de queijo e comi como se estivesse há dias com fome. 

Na hora do almoço, num restaurante já mais próximo de nosso destino, assustei Vanja com o tamanho do prato que preparei para mim, pois fazia meses que ela me via comendo pouquíssimo e com dificuldade. 

Não consigo deixar de me emocionar quando me lembro disso. Não é para menos, porque não é pouca coisa. Eu estava olhando para os itens disponíveis no self-service e desejando comer, antecipando as texturas e sabores dos alimentos ali presentes. Eu nem fazia ideia de por quanto tempo não sentia aquilo! 

Preciso terminar este texto, então vou deixar para outra ocasião contar mais sobre aquele período. Porque hoje, 23 de setembro, é dia de celebração! As chuvas de primavera começaram a descer naquela manhã sobre meu coração ressecado por meses de tristeza profunda e mortal, durante os quais Deus me sustentou com o maná da sua Palavra. 

Durante os dias que se seguiram, ainda tive altos e baixos. Mas os altos foram mais constantes e mais altos, e os baixos foram sendo vencidos pelo poder da Palavra de Deus, ministrada por minha amada, carinhosa e perseverante esposa, por amigos igualmente dedicados e — acredite — por mim mesmo, que, muitas vezes, durante a depressão, precisei pregar o Evangelho de Jesus Cristo para a minha própria alma! 

Lembro-me também da primeira chuva da primavera de 2014. Foi o prenúncio de que o deserto estava acabando. E eu o havia atravessado, sofrendo e chorando, mas, pela graça do meu Salvador, saí livre e cantando, do outro lado! Aleluia! Bem vinda, primavera! 

Não sei em que situação esse relato está chegando até você. Se você não está atravessando a estação seca da alma, celebre a alegria na presença do Senhor. Se estiver aguardando ansiosamente a chuva de primavera, minha oração é para que ela não demore a cair e refrescar seu coração. Enquanto isso, continue aos pés dele, clamando e esperando confiantemente no Senhor. Ele se inclina e ouve! 

“E me pôs nos lábios um cântico novo, um hino de louvor ao nosso Deus” (Salmo 40.3a). 

Deus é bom

Rev. Dr. J. C. Pezini 

Por que este homem está sorrindo? 

Qualquer pessoa familiarizada com a fotografia do século XIX sabe que praticamente todo ser humano parece estar sério, de boca fechada e severamente séria – como se tivesse acabado de receber notícias de uma auditoria da Secretaria da Fazenda. 

Os historiadores apontam que a higiene dentária era notoriamente pobre durante os anos 1800, e que as primeiras fotos exigiam longas exposições; não eram como hoje que pode capitar uma imagem em milésimo de segundo, daí a dificuldade de capturar algo como a espontaneidade em um rosto humano sorrindo. 

Mas a verdadeira razão para esses retratos sombrios tem muito mais a ver com o que as pessoas pensam sobre sorrisos. Hoje nós associamos sorriso com felicidade, calor humano, descontração e bom humor. 

Mas em séculos passados, os europeus concluíram que as únicas pessoas que sorriam abertamente eram pobres, embriagadas, moralmente falidas ou artistas profissionais que eram pagos para sorrir mesmo quando não havia motivo para tal. Então, as pessoas de bem a ser fotografadas não queriam cair em nenhuma dessas categorias. 

Abraham Lincoln e Mark Twain foram duas pessoas das mais sofridas do século 19. No entanto, em todas as suas fotos que se conhecem, são retratos de grande solenidade. Twain, quando perguntado a razão de tal solenidade explicou: “Uma fotografia é um documento importantíssimo, e não há nada mais condenável a ir para a posteridade do que um sorriso bobo e tolo, capturado e consertado para sempre”. 

O homem na foto acima é Charles H. Spurgeon, o chamado Príncipe dos Pregadores de Londres. No entanto, aparentemente, não se importou de ser fotografado sorrindo e que seu “sorriso fosse considerado bobo e tolo” mesmo que capturado para sempre. A vida de Spurgeon não foi isenta de dor e sofrimento. Aos 22 anos quase abandonou o ministério. Ele sofria, também, da doença de Gota e depressão constante. 

Multidões sem precedentes vinham ouvi-lo pregar com ousadia e intrepidez. Por este motivo sofreu com a inveja de rivais religiosos e o escrutínio da imprensa sensacionalista de todos os lados. 

Em 19 de outubro de 1856, mais de 12.000 pessoas se espremeram no Surrey Garden Music Hall para ouvi-lo. Ele teve que alugar esse espaço porque nenhum santuário existente naquela época poderia conter tamanha multidão. Outros 10.000 fiéis ficavam do lado de fora do prédio, esperando pegar algumas gotas de seu sermão. Um dia, de repente, alguém gritou desesperado “Fogo!”. Fumaça e chamas apareceram por todos os lados do auditório. Uma sacada desmoronou. Houve desespero e as pessoas atropelaram umas as outras enquanto corriam em direção às saídas, tentando salvar as próprias vidas. Sete adoradores morreram e 28 outros ficaram gravemente feridos naquele dia. 

A imprensa local espalhou notícias afirmando que Spurgeon era de alguma forma, culpado pelo ocorrido. Este acontecimento o fez mergulhar em uma profunda depressão. Ele achava que por causa disto seu ministério seria ‘silenciado para sempre’. 

Mas, este grande pregador gradualmente recobrou sua força e encontrou o caminho de volta ao púlpito. Uma sensação de alegria voltou à sua vida. Como disse um biógrafo, sua alegria baseava-se não apenas em sua capacidade de recuperação, mas também na capacidade de Deus de reabastecê-lo. 

Como Spurgeon recuperou sua confiança depois deste desastre público? 

Ele tinha que estar convencido de duas coisas, creio eu, que são verdadeiras em se tratando de Deus. 

Primeiro: Deus está no controle de tudo! Esse é um princípio central da fé cristã. Mas, quando você reflete sobre isso em meio às lutas da vida e faz um exame longo e honesto das condições do mundo atual, onde parece não haver conserto e nem solução para os dramas da humanidade, fica difícil encontrar conforto. 

Se você tem acompanhado o noticiário, neste momento, um gigantesco furacão está subindo em direção à costa da Carolina do Norte nos USA. Forças rebeldes na Síria têm combatido tropas apoiadas pelo governo nos últimos cinco anos e quase destruíram o país. Milhões de seres humanos vulneráveis estão sendo traficados enquanto você lê que Deus é bom e está no controle de tudo. Apenas nas últimas 24 horas, cerca de 30.000 crianças morreram de desnutrição e doenças evitáveis. No momento em que vivemos em nosso país, olhando para o cenário político, não vemos esperança. Ao sairmos pelas ruas vemos muitos seres humanos dormindo nas calçadas e com o estâmago roncando de fome. Sem falar no grande número de pastores em depressão, sem esperança e não poucos os que buscam por uma igreja para pastorear. 

Deus está realmente no controle? Quem pode culpar um inquiridor honesto por dizer: “E daí?”. Deus parece ser culpado de negligência divina. Mas, Spurgeon apostou sua vida na verdade da bondade divina e no controle que ele tem como Deus. 

Segundo: Deus não somente está no controle do cosmos e é também bom, mas ele é capaz de transformar desastres em eventos esperançosos e até horrendos males morais em acontecimentos redentores. Deus está conduzindo os eventos mundiais – assim como os eventos em sua própria vida – de tal forma que todos nós, no final, ficaremos impressionados com sua sabedoria! Disto eu não tenho dúvida! 

No caso de Spurgeon, o promissor ministério que ele desfrutou às margens do rio Tâmisa, em Londres, foi transformado em um ministério internacional que ainda traz pessoas à fé 125 anos após sua morte. Em nenhum lugar prometemos livramento sobrenatural da experiência da dor e do sofrimento. Mas Deus é bom, e ele é capaz de fazer uso sobrenatural das nossas piores dores para trazer as maiores alegrias em nossas vidas e transformar nossa fraqueza em um ministério frutífero. Por este motivo ele coloca um sorriso em nosso rosto não importando a circunstância que nos cerca. 

Quero, amigo, mesmo que neste momento enquanto lê este artigo e está enfrentando grandes lutas, te encorajar a continuar crendo na bondade de Deus.